domingo, 5 de fevereiro de 2012

O Álibi

Tive a honra de ter este texto publicado no livro Voz do Professor em 2005, uma produção UFES ne@ad/cre@ad

Ana Alice era uma professora que quase sempre esquecia de fazer a chamada, um dia comentou com sua colega:
_ Esqueci de fazer a chamada do 3º A.
_ Deixa de ser boba, coloque presença para todos e pronto.
_ É isto mesmo que vou fazer.
Isto acabou tornando uma praxe na vida de Ana Alice. Nesta turma havia um adolescente de índole nada confiável, Paulo, que nutria um certo rancor pelo filho da professora, o Luís, que também estudava na escola, aliás na mesma turma. O motivo do desafeto era Cristina, com quem Luís mantinha um namoro e que outrora fora namorada de Paulo. Um dia Paulo e Luís faltaram as aulas e durante este período Ana Alice recebeu a visita de um policial com a triste notícia do assassinato de seu filho, Luís. O principal suspeito, Paulo, com quem, inclusive, a polícia encontrara a arma do crime, uma faca suja de sangue; foi a julgamento e tudo pesava a favor de sua condenação quando o advogado de defesa proferiu as seguintes palavras:
_ Meritíssimo, Senhores jurados, gostaria de fazer umas perguntas ao diretor daquela instituição de ensino.
O juiz concedeu.
_ Srº João, o senhor como diretor daquela escola pode me dizer o que é isto que está em minhas mãos?
Disse isto mostrando um diário de classe e assim respondeu o diretor.
_ Só mais uma pergunta, de quem é este diário?
_ Da professora Ana Alice, mas onde o senhor quer chegar...
_ Meritíssimo gostaria de dispensar o Sr João, muito obrigado Sr João, e gostaria que dona Ana Alice se aproximasse para analisar o diário.
_ Protesto meritíssimo, retrucou o promotor de justiça.
_ Só quero esclarecer os fatos meritíssimo.
_ Protesto recusado, ditou o juiz. Prossiga.
_ Dona Ana Alice de quem é este diário?
_ Qual a relação disto com a morte do meu filho? Perguntou em prantos.
_ Dona Ana por favor responda a pergunta do advogado, por favor doutor repita; espero que tenha fundamento toda esta situação criada - Disse em tom ameaçador o juiz.
_ Dona Ana Alice de quem é este diário?
_ É meu - respondeu a professora.
_ Senhores jurados, não preciso de mais perguntas, pois todos aqui sabem muito bem que o diário de classe é onde estão pautadas a vida do aluno, vamos dar uma olhada no dia 08/11/2004.
_ Peço aos senhores para darem uma olhada no número 23, digam-me, refere-se ao nome Paulo Antunes dos Reis?
Os jurados confirmaram balançando a cabeça positivamente.
_ Peço uma última coisa aos senhores, o número 23, ou seja, Paulo Antunes dos Reis está com presença neste dia?
Novamente os jurados confirmaram.
_ Então senhores, não resta dúvida que meu cliente é inocente pois consta nos autos que a vítima foi assassinada às sete e trinta da manhã do dia 08/11/2004 e como os senhores disseram, o meu cliente estava neste horário, aliás das sete as nove, uma que vez dona Ana Alice lecionou duas aulas seguidas, portanto peço que Paulo, que já foi inocentado por dona Ana ao confirmar ser a professora responsável pelo diário, seja também inocentado por vocês.
Depois de muito se discutir o juiz deu o veredicto.
O jovem Paulo Antunes dos Reis foi inocentado com unanimidade dos votos. Um ano depois a professora Ana Alice viajava pelo estado dando palestra sobre a importância de se fazer chamada.



Um comentário:

  1. Esta é uma boa lição para o professores que não utilizam o diário diariamente, um dia a casa pode cair, seja mais responsáveis.

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