Há gerações que cresceram acostumadas com o contato físico
afetuoso; que dançavam juntos e até de rosto colado, bons tempos; a
atual geração está adaptada a uma vida no mundo virtual, mas todas
as gerações gostam de um aperto de mão, de um abraço, de um
beijo... pois estes prazeres nos são apresentados desde do nosso
nascimento. Quando garoto, ouvia de vez em quando que alguma
conhecida da família estava em quarentena; era um momento de
confraternização e de muita alegria, as pessoas visitavam a
família, sobretudo o bebê e a mulher que acabara de dar a luz e,
naquele momento, os avós eram as personagens de participação
fundamental; atualmente a quarentena não nos traz os mesmos
sinônimos, os avós desta vez não podem embalar os bebês, não
podem confraternizar com as visitas; os netos deixaram de ser um
presente para se tornar uma ameaça.
Uma
parte da população, agora vivendo em um isolamento, está se
adaptando a uma vida virtual, independente da geração; outra parte,
aquela que não possui acesso a este tipo de “vida” está tendo
que recriar um ambiente familiar que torne menos penoso o afastamento
social.
Algumas
palavras tem sido ditas repetidamente nos veículos de comunicação,
“pandemia, epicentro, fique em casa...”; sem dúvidas estamos
todos envolvidos em um clima muito diferente da quarentena do meu
tempo de garoto; quando tudo isso passar muito provavelmente o mundo
não será mesmo, pode ser que sejam criados epicentro do abraço,
epicentro do carinho, epicentro do afeto… e aí a mensagem talvez
seja; não fique em casa, saia e abrace.
Seria
muito bom poder dizer que amanhã as pessoas poderão se reunir nas
praças, nos clubes, em suas casas para darem os abraços que estão
guardados; por mais triste que seja seria bom pra muita gente até
mesmo ouvir que podem fazer o funeral das pessoas que lhes são
próximas, mas diferente da quarentena do meu tempo de menino que
tinha data de início e fim, estamos lidando com incertezas, pois
mesmo quando tivermos a notícia que estamos livres; como iremos
agir? Será que este distanciamento ira nos aproximar ou será que
teremos medo de nos manifestar afetuosamente? Será que aprenderemos
que o maior estoque que temos que fazer em momentos como este é o de
humanidade? E como as pessoas irão reconstruir suas vidas? São
questões subjetivas para as quais só teremos respostas quando
pudermos viver a concretude do final deste período.
Independente
da geração todos já aprendemos que qualquer que seja a classe
social, a etnia, o sexo, a idade…. Estamos expostos aos mesmos
efeitos e necessitamos utilizar os meios disponíveis para que o
período seja vencido sem maiores prejuízos, no que diz respeito ao
estado psicológico de cada um, pois se no início disto tudo algumas
pessoas eram ilhas hoje somos um arquipélago.
Talvez
aprendamos que não requer contato físico o ato de estender aos
mãos; que o mundo está em uma olimpíada onde a regra principal é
o isolamento onde cada um de nós é um juiz e ao final o pódio terá
que ser do tamanho do mundo pois todos queremos estar lá, todos
estaremos lá e como prêmio todos poderão dar para o outro o que
está guardado todo este tempo; abraços, abraços e abraços.
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